Nov 6, 2018
Demoramos uma semana até gravar isso, precisávamos de um tempo
para digerir tudo o que estava acontecendo.
Então aconteceu o que estava previsto, embora alguns de nós
tivéssemos uma tênue esperança do contrário. O brasileiro se
revelou mais retrógrado, intolerante e desinformado do que
imaginávamos. Nunca tivemos eleições como essas. Normalmente quem
perde fica chateado. Dessa vez, quem perdeu está com medo
por si e por seus pares.
Vimos como é perigoso usar a mídia pra teleguiar as massas; a
Globo perdeu o controle da sua política de fomentar o antipetismo,
a direita foi mais rápida ao sacar quais instrumentos usar pra se
aproveitar disso, e nós ficamos pra trás, perdidos, talvez, entre
argumentos acadêmicos e análises de conjuntura. Mano Brown explicou
direitinho – não soubemos nos comunicar com quem realmente importa,
e o reflexo disso agora bateu de sola na nossa cara, com força. E
doeu.
À nossa frente, temos tempos sombrios. Como dissemos no
editorial anterior, nós já tínhamos perdido mesmo antes dele ser
eleito. A barbárie já está correndo solta nas ruas, e além disso já
há muitos relatos de medidas econômicas desfavoráveis aos
trabalhadores sendo tomadas internamente em empresas à espera do
neoliberalismo extremo que virá depois de 2 de janeiro. A imprensa
já está sendo ameaçada e certamente será cerceada; os educadores
estarão na linha de frente e na alça de mira, serão particularmente
atingidos e precisarão ficar espertos pra tentar passar incólumes
por esse pesadelo. Será preciso estar atento e forte.
Todos nós sabemos que vai piorar. Tudo vai piorar. O país vai
se tornar muito mais desigual do que já é, mais pobres irão morrer,
a Amazônia vai sofrer. Sabemos que a maior parte desses danos é
irreversível. Sabemos também a dificuldade que é lutar contra um
mito no qual as pessoas acreditam sem pensar duas vezes, um
desgraçado considerado um deus por seus seguidores, incapaz de
errar, incapaz de mentir, incapaz de qualquer coisa ruim; uma
figura contra a qual nem as mais sólidas e gritantes evidências são
levadas em consideração. Nossa luta será incrivelmente árdua,
provavelmente infrutífera a curto e médio prazo, extremamente
cansativa – e absolutamente necessária. Temos a vantagem, agora, de
saber quem são nossos rivais, nossos inimigos. Sim, inimigos; chega
de eufemismos. Precisamos achar conforto no fato de que é mais
fácil lutar contra quem enxergamos do que contra um inimigo
invisível. O fascismo só é invencível enquanto é somente uma ideia.
Agora que virou realidade, temos chance.
Bem, podemos fazer todas as autocríticas possíveis mas nada
vai mudar a realidade de que Jair Messias Bolsonaro foi eleito, não
tem volta, mas o cenário que o elegeu, esse sim tem conserto. Para
isso necessitaremos da dedicação de todos. Da nossa parte, como
produtores de um conteúdo de nicho, resta a união. União essa que
já se transformou em um grupo autointitulado PODOSFERA
ANTIFASCISTA. Esse grupo formado por diferentes correntes
ideológicas e visões de mundo converge no pensamento que de
precisamos levantar a cabeça e ocupar os espaços, sejam eles na
comunidade ou nos diferentes veículos de comunicação digital para
quebrar a hegemonia do discurso que joga pais de alunos contra seus
professores, policiais que ganham um salário de fome contra
trabalhadores igualmente explorados, desempregados desesperados em
uma lógica de precarização do trabalho.
Assumimos aqui também o compromisso de encorajar cada ouvinte
a criar o seu próprio espaço de discussão. Se você tem afinidade
com o negócio, crie um canal no YouTube, crie um novo podcast, crie
um blog. Caso os primeiros passos pareçam muito custosos e a
barreira muito grande, simplesmente escreva textos e publique no
Medium, mas não deixe de se expressar. É possível que apareçam
erros no caminho, nós também erramos, mas não deixe que isso te
paralise.
Se você não se vê habilitado a falar sobre nada, tudo bem,
ainda assim é possível ajudar. Se possível, colabore com os
trabalhos que representam a sua visão de mundo. Por menor que seja
o valor, será um auxílio e um incentivo gigantesco a quem está na
linha de frente dando a cara a tapa. Não precisa ser o nosso
projeto aqui não, tem muita ONG, canal de YouTube, jornalista
investigativo por aí fazendo ótimos trabalhos.
Se a sua condição financeira não permite qualquer tipo de
colaboração, ainda assim é possível ajudar. Compartilhe entre os
seus amigos e nas suas redes sociais o conteúdo criado por quem tem
compromisso com a democracia. Talvez isso angarie mais gente que
pensa como eu e você, e mesmo que não o faça ao menos mostra aos
que estão do outro lado que há sim uma voz dissonante e essa voz
representa várias outras. Precisamos mostrar aos que optaram pela
via do autoritarismo que os direitos conquistados não serão
retirados sem resistência, que o desprezo à vida e a dignidade do
próximo não são o padrão.
Obrigado a você que ouve este áudio e caminhou ao nosso lado
até aqui. Gostaríamos de dizer que este foi apenas o começo e que
continuaremos aqui. Conte conosco e se precisar entre em contato.
Prometemos não soltar a mão de ninguém.
Ficha técnica
Narração: Thiago Corrêa e Leticia Dáquer
Texto: Thiago Corrêa e Leticia Dáquer
Edição: Thiago Corrêa
Músicas:
- Raul Seixas - Murungado
- Raul Seixas - Por Quem os Sinos Dobram
Links do Pistolando: